O Jazz cigano de Django Reinhardt
O homem que reinventou o modo como o Jazz era tocado e de quebra influenciou o Les Paul

Por Jorge Lopes que não toca Jazz como o Django Reinhardt mas aprecia como poucos!
Se você, assim como eu aprecia um bom guitarrista de Jazz e ja passou horas ouvindo Wes Montgomery, Pat Metheny, John Scofield, George Benson entre outros, sabe o quanto um guitarrista dos grandes pode fazer desse estilo uma verdadeira aula de técnica, feeling e improvisação. No entanto, existe um que não ficou tão famoso como os acima citados, embora seja dono de uma técnica e estilos inconfundíveis! Eu me refiro ao Django Reinhardt.
Dono de um senso melódico e precisão incríveis, ele surpreendia por tocar seu violão usando apenas dois dedos. Além de tudo, foi uma grande influência ao Sr Les Paul tanto como guitarrista quanto como inventor que era. Veremos mais detalhes abaixo:
Um pouco da história:
Descendente de ciganos, Django começou a tocar violino ainda criança e aos 15 anos já era atração principal de um espetáculo do grupo cigano (caravana) com o qual sua família vivia. No entanto, aos 18 anos, após uma noite de show, a esposa do Django levou para casa flores secas, que foram o estopim de um incêndio. Esse incêndio causou o fim da curta carreira do Django como violinista, uma vez que sua mão foi severamente ferida e deformada.
No entanto, a partir daí ele passou a se dedicar ao violão principalmente como terapia, devido ao menor esforço em relação ao violino e dai começou a nascer uma lenda.
Por conta do incêndio, ele só conseguia usar dois dedos da sua mão esquerda, o que tornava mais difícil e ainda mais incomum vê-lo tocar. O surpreendente foi que, dentro de pouco tempo ele já demonstrava uma habilidade impressionante ao violão. Nessa mesma época, tomou conhecimento do Jazz e mais precisamente de um homem que começava a fazer sucesso nos EUA (e nós sabemos a que ponto esse sucesso chegou) chamado Louis Armstrong. A partir daí o seu interesse foi crescente até se juntar ao também violinista Stéphane Grappelli. No entanto por muito tempo não conseguiram trabalhos pagos para o seu novo estilo.
O Quintette du Hot Club de France
Foi então nessa época que ele formou o Quintette du Hot Club de France. O quinteto era formado por Django Reinhardt, Stéphane Grappelli, Joseph Reinhardt (irmão do Django) no violão, Roger Chaput também no violão e o Louis Vola no baixo. Ocasionalmente contavam com o vocalista Freddy Taylor.

Esse quinteto se tornou um sensação na Paris daquela época e tornou-se um dos maiores ícones do Jazz Europeu, sendo encabeçada por Django Reinhardt, de longe o maior ícone do Jazz europeu da história. No ano de 1933, em Paris, foram gravadas as primeiras faixas do quinteto.
Após a segunda guerra, tocou com vários famosos e excursionou pelos EUA junto com Stéphane Grappelli, tocando inclusive como solista em alguns shows do Duke Ellington.
Legado
A parte mais importante da história do Django Reinhardt é o seu legado para a música e mais especialmente para o Jazz. É considerado por muitos como o criado do Gypsy Jazz, criador de um estilo delicado e único de tocar e um tanto avcsso à guitarra elétrica. (What?)
É também considerado um dos maiores responsáveis por espalhar o Jazz pela Europa e é até hoje considerado o maior expoente do estilo criado no velho continente.
Além do mais, foi um dos grandes influenciadores do Sr. Les Paul e como veremos abaixo, a influencia não parece ter ficado só na música não.
As Máquinas – Os violões Selmer e influência ao Sr. Les Paul
Django Reinhardt e sua banda, sempre usaram Os violões Selmer (Selmer Guitars), mais precisamente o modelo Selmer Maccaferri que também ficou bastante conhecido como D-hole model, por conta da forma do bocal. A Number 503 (Oval Hole), que ficou conhecida como sua principal guitarra.
Esses violões já foram considerados por Luthiers do mundo inteiro uma das maiores obras de arte em termos de instrumento. Já naquela época vinham com tensor ( que em guitarras foram usados primeiramente nas Gibson) e são também os primeiros instrumentos a apresentar o cutway. Parecem coincidências? Não são. O próprio Les Paul já falou publicamente várias vezes sobre o quanto idolatrava o gênio Django Reinhardt.
Veja esse gênio tocando com o seu quinteto num video muito interessante abaixo:
Esses instrumentos tinham um som bem mais pungente e presente do que a maioria dos violões fabricados na época e essa característica pode ser notada em qualquer gravação do Django Reinhardt ou do Quinteto.
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Esse post é uma nova série que pretendo fazer falando de caras icônicos que contribuíram para a música de várias formas.
Django Reinhardt mostrou como é possível usar a música de uma cultura específica junto da música popular da época sem que nenhuma das duas perdesse sua característica, criando um novo estilo de qualidade excepcional. Isso sim é viver a música e fazer algo em prol dela.
Fica aqui minha pequena homenagem a esse ídolo e gênio.